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Processos eficientes, pessoas e equilíbrio entre novo e tradicional: como a Porsche escapou da falência

No final dos anos 1980, a Porsche registrava um prejuízo anual de cerca de 120 milhões de euros. O negócio estava à beira da falência. Hoje, no entanto, a montadora de luxo é sinônimo de estabilidade e prestígio. Para Rüdiger Leutz, CEO da Porsche Consulting, que há 25 anos atua na consultoria da marca, sendo 17 deles no Brasil, a recuperação financeira e de status da empresa não foi resultado de um único fator, mas da combinação de eficiência nos processos, atenção às pessoas e equilíbrio entre renovação e tradição.
“A Porsche estava quebrada e a própria família fundadora se perguntou: ‘O que vamos fazer? Vamos vender tudo ou investir novamente nosso próprio dinheiro?’. Mas ficou claro que, se a escolha fosse investir, seria preciso mudar fundamentalmente a forma de trabalhar. Naquele momento, decidiram investir, com a condição de transformar a maneira de pensar e de produzir", disse Leutz durante um painel do Fórum Anual das Médias Empresas, realizado pela Fundação Dom Cabral, que acontece em São Paulo até esta quarta-feira (3/9).
Ele deu como exemplo a linha de montagem do Carrera 911, no final dos anos 1980. “Era um produto de altíssimo luxo e qualidade, mas a estrutura da fábrica não transparecia isso. Era evidente que, em condições como aquelas, era praticamente impossível garantir a qualidade que o carro exigia. Aí estava a raiz do problema", disse.
Depois de solucionar os problemas, a empresa criou a Porsche Consulting, em 1992, justamente para compartilhar experiência e metodologias com interessados em saber como a montadora tinha se recuperado tão rapidamente.
Eficiência de processos
O primeiro passo da transformação foi dentro da fábrica. Segundo Leutz, a empresa buscou inspiração em metodologias de eficiência do japonês Chihiro Nakao, que foi contratado para revisar a forma como a produção era organizada. Com Wendelin Wiedeking, CEO da Porsche na época, ele trabalhou no chão de fábrica, mudando processos de logística, cadeia de fornecimento e produção. A abordagem prática gerou ganhos rápidos, motivando os funcionários e criando transformação cultural contínua.
Outra grande mudança foi entender que eficiência não se restringe à empresa, mas a toda a cadeia. A Porsche estendeu a consultoria aos seus fornecedores, criando um sistema "win-win-win" onde a melhoria da eficiência era compartilhada, resultando em redução de custos e aumento da qualidade.
Leutz diz que a Porsche aplica conceitos e eficiência para economizar em todas as áreas do negócio, incluindo marketing, RH, logística e finanças.
Atenção às pessoas
Na época da crise, ainda havia alguns membros da família fundadora na gestão executiva do negócio. “Quem conhece a história sabe que o bisavô era um gênio, não apenas em carros, mas também em tanques, aviões, motos e barcos. Já o filho dele era um homem de negócios e elevou a empresa", disse o CEO.
Quando o negócio estava a beira da falência, a família percebeu que não era garantido que todos os herdeiros tivessem esse mesmo talento. “Aprenderam isso rapidamente e, por isso, contrataram um novo CEO, de 38 anos, com experiência e competências diferentes.”
Desde então, nenhum membro da família ocupa cargos executivos na Porsche, atuando apenas no conselho de administração. “Essa foi uma decisão muito importante, porque eles entenderam que carregar o nome Porsche não significa, necessariamente, saber gerir a empresa como o bisavô sabia. Eles agora apoiam a gestão, sempre com foco em trazer as pessoas mais qualificadas do mercado.”
Segundo Leutz, até hoje, investir nas pessoas certas é parte fundamental do negócio — independentemente das tecnologias que surjam. Também é preciso saber unir as diferentes gerações que agora estão no mercado de trabalho. “A Porsche busca jovens programadores e desenvolvedores de videogames, além dos engenheiros tradicionais, para atender às novas demandas. O maior desafio das empresas atualmente é montar uma equipe que una a experiência de funcionários mais velhos com o conhecimento dos mais jovens, criando um ambiente de colaboração.”
Renovação e tradição lado a lado
A marca conseguiu manter o equilíbrio entre tradição e inovação. O Carrera 911 continua sendo produzido e representa o maior número de vendas da marca — inclusive com uma fila de espera para compra. Mas, ao mesmo tempo, a Porsche abriu espaço para novos modelos que ampliaram o público da marca, como o Cayenne, que tem um tamanho mais adequado para famílias, e o elétrico Taycan.
A forma de compra também mudou, com etapas digitais e personalização total pelo cliente, incluindo opções como escolha do couro e da cor da pintura. A Porsche também está testando um serviço de assinatura nos EUA, oferecendo acesso a diferentes modelos por uma mensalidade.
“A geração mais nova não quer comprar um carro, muito menos cuidar", afirmou Leutz. “Essa é uma nova forma de oferecer a experiência para essa geração que não está disposta a pagar R$ 1 milhão em um automóvel.”
Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios